“Bem-estar: a próxima indústria dos trilhões de dólares”
Por Camila Nagay
Não é de hoje que as empresas vêm investindo cada vez mais em estratégias de bem-estar para seus colaboradores, através de ações que incluem desde novas políticas corporativas até alterações na arquitetura dos locais de trabalho.
Um dos principais fatores relacionados a estas alterações na cultura e no comportamento de muitas empresas diz respeito ao retorno de investimento (ROI) de 90% referente aos custos com “pessoas” dentro das empresas, como salários e benefícios, comparados a outros investimentos como o de energia (ROI de 1%) e de operação e manutenção (ROI de 9%), segundo dados divulgados pelo estudo Knoll Workplace Research “What’s Good for People. Moving from Wellness to Well Being”, realizado pela pesquisadora Kate Lister, em 2004.
Entretanto, este ROI de 90% é possível somente se as pessoas são capacitadas, produtivas e estão engajadas nos propósitos da empresa. Neste contexto, são incontáveis as estratégias corporativas que vêm sendo implementadas para retenção de talentos, aumento da produtividade e favorecimento do engajamento: distribuição dos lucros (bônus), prêmios em dinheiro ou bens materiais, flexibilização do horário de trabalho, incorporação do trabalho remoto (conhecido como “home office”), áreas de descompressão nos escritórios, dentre tantas outras.
Mas, será que essas estratégias são efetivas e suficientes? A resposta é não. E muitas empresas já sabem disso.
Há uma crescente demanda por copas e cozinhas compartilhadas dentro dos escritórios, onde os colaboradores podem preparar o próprio alimento, em detrimento do vale-alimentação ou do restaurante convencional, por exemplo. Em alguns locais, os colaboradores podem até cultivar estes alimentos, nas hortas urbanas ou fazendas verticais dentro dos locais de trabalho.
Outra questão que vem sofrendo enorme mudança se refere aos meios de transporte. As vagas de estacionamento para veículos individuais nos edifícios corporativos paulatinamente cedem lugar aos bicicletários, vestiários e lockers para ciclistas, racks para estacionamento de patinetes, vagas preferenciais para “carona solidária”, acessos específicos para veículos compartilhados, carregadores para carros elétricos, etc.
Então, como saber quais ações são mais efetivas? E quais são os parâmetros de cada ação? Como respostas a estes questionamentos, surgiram as certificações WELL (administrada pelo IWBI–International WELL Building Institute) e Fitwel (administrada pelo CfAD–Center for Active Design), ambas criadas nos EUA e embasadas em pesquisas avançadas no campo da saúde e da neurociência aplicada à arquitetura, também conhecida como neuroarquitetura.
Para muitos especialistas e pesquisadores da área de arquitetura sustentável, o surgimento das certificações WELL e Fitwel é a continuação dos conceitos e métricas criados para os edifícios verdes, ou “green buildings”, campo no qual a Certificação LEED é a mais conhecida. Isso porque seguem a mesma sequência conceitual, porém com o foco nas pessoas e não somente nas edificações.
Uma das principais contribuições que as certificações WELL e Fitwel trouxeram foi a alteração do conceito de bem-estar. Mais do que uma “boa sensação” ou “bom sentimento”, as ações presentes nestas certificações estão fortemente relacionadas à saúde.
Garantir as taxas de renovação do ar externo dentro das edificações ou as concentrações máximas de metais pesados na água são ações que podem passar despercebidas aos usuários de um edifício que atende aos requerimentos destas certificações, mas certamente terão impactos positivos na saúde dessas pessoas. Da mesma forma, uma iluminação que respeita o ciclo circadiano (relógio biológico) pode não ser percebida com nitidez, mas contribuirá para a sincronicidade dos hormônios do sono.
Outra contribuição importante das certificações está relacionada a abordagem das ações nos níveis inconscientes do pensamento, já que 95% das nossas decisões são tomadas inconscientemente e somente 5% com consciência. É de forma inconsciente que as pessoas se sentem mais confortáveis próximas à natureza, conceito denominado biofilia.
Também é de maneira inconsciente que os locais de trabalho com multiplicidade de ambientes proporcionam maior sensação de bem-estar do que locais de trabalho homogêneos. Ter espaços mais quietos destinados ao foco e concentração, integrados a ambientes colaborativos, onde há mais pessoas trabalhando em conjunto, é uma solução muito utilizada para trazer essa sensação.
Nos projetos desenvolvidos pela Athié Wohnrath são incorporados diversos conceitos de saúde e bem-estar, pois eles podem melhorar consideravelmente a relação entre as pessoas e os espaços construídos e, com isso, promover o engajamento necessário com as atividades desempenhadas nestes locais.
Diante da crescente demanda por implementar estratégias de bem-estar nas empresas e do avanço nas ferramentas e parametrizações destas ações, não fica difícil concluir que a indústria do “bem-estar” é uma das mais promissoras atualmente, conforme revelou um estudo realizado pela McKinsey & Co em 2012 (“Healthy Weathy and (maybe) wise: The emerging trillion-dollar market for health and wellness”, por Putney Closs, Sherina Ebrahim, Tracey Griffin e Warren Teichner), no qual a conclusão foi que o bem-estar é a nova indústria dos trilhões de dólares.