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O Novo Minimalismo

O Novo Minimalismo

A ressignificação dos espaços e das prioridades para o mundo pós-pandemia.

By Anna Rossi

Durante a década de 40, no cenário da revolução do design do pós-guerra, nasce a máxima representação, profetizada por Mies van der Rohe, do que viria a ser a exposição do movimento minimalista no mundo: “menos é mais”.

Mais de 60 anos depois, chega a febre de Marie Kondo, especialista em organização pessoal, empresária e escritora japonesa, que traz para os holofotes o já milenar minimalismo japonês, ressignificando o conceito de se ter apenas o que traz alegria, o essencial.

 Mas o que seria o essencial no quadro de um retorno ao “novo normal” após o ano que a pandemia do covid-19 desacelerou o mundo e mudou as relações humanas entre si e entre os espaços que habitamos e trabalhamos?

Novos modelos de trabalho, implantados quase que em caráter emergencial, sacudiram as empresas no início da quarentena, com a implementação do “home office” total.

As estruturas foram repensadas em questão de dias: conexões, softwares de encontro virtual, cronogramas e como trabalhar de forma colaborativa – demanda cada vez mais presentes nos conceitos dos espaços corporativos – de forma remota.

Com a extensão do período e o lento avanço na batalha contra o covid-19, essas novas formas de trabalhar se estabilizaram e começam a se encaixar no DNA das empresas, criando uma onda de mudança cultural e principalmente de reflexão para o retorno: as empresas precisam de todo o espaço que possuem? São esses espaços verdadeiramente essenciais para um escritório bem-sucedido?

A racionalização dos recursos das empresas no pós-crise traz à tona o que é essencial, um ato de estratégia espacial e econômica inteligente: investir em recursos para garantir a flexibilidade do novo dia a dia da empresa, espaços que estimulem a produtividade e a qualidade de produção.

Com a “nova concorrência” do conforto – trazido pelo home office – e a mentalidade social de que escolher um emprego vai além de optar por benefícios e salário, existe a conexão do colaborador com a empresa. A reflexão do “novo minimalismo” para os espaços corporativos significa a necessidade de repensarmos o que é essencial para que o espaço do escritório seja atraente.

Esse novo ambiente busca o equilíbrio entre um espaço seguro, sedutor, que crie um laço de confiança e transmita a mensagem de responsabilidade, se tornando atrativo para os colaboradores, retendo e atraindo os talentos do mercado.

Um dos possíveis caminhos é o uso da inteligência do design para flexibilidade do mobiliário, permitindo diversas configurações de trabalho, utilizando menos peças e menos metragem. Peças de design como o Stool Tool ( Konstantin Grcic para Vitra) onde uma única peça empilhável tem a função de mesa, cadeira, banco, escada e arquibancada ajudam a economizar espaço e garantem um elemento visual e estético atrativo para o uso, seja individual ou coletivo.

A tecnologia também tem um importante papel de garantir conexões internas e externas a esse espaço de trabalho, indo muito além do que o suporte necessário para “calls” de qualidade e buscando softwares de automação e aplicativos “minimalistas”: descomplicados, funcionais e intuitivos para facilitar as dinâmicas do dia a dia.

O paisagismo e a biofilia, mais necessários do que nunca para nos reconectar com a natureza, também passam pela “peneira” da essencialidade: pontos de vegetação bem aproveitados e planejados, com espécies propícias para manutenção e que tenham múltiplas funções: dividir espaços, contribuir na acústica, criar bloqueios visuais e etc. O “multifuncional” se torna uma importante estratégia para elaboração de todos elementos do espaço.

A comunicação visual passa a ser projetada para realmente comunicar e perder seu caráter muitas vezes só decorativo: criar laços visuais da cultura e valores da marca, demarcar fluxos, áreas e contribuir para a construção de uma nova linguagem que traduza a organização e rotina desse novo espaço.

Esses conceitos podem ser aplicados nos diversos outros elementos que constroem o espaço físico, de forma que a tendência do “novo minimalismo” não se trata de uma regra ou métrica sobre o que importa ou não e onde deve ser ou não aplicada.

O novo minimalismo se trata de entender a nova dinâmica e cultura do espaço de cada empresa e de não pensar em menos como mais, mas sim conseguir fazer mais com menos.

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